Na tarde da última quinta-feira (05), Pedro Cardoso, ator, surpreendeu nas redes sociais ao apoiar a condenação do humorista Leo Lins, acusado de falas preconceituosas registradas em um show de stand-up.
Segundo Pedro, que interpretava Agostinho Carrara, parte do humor feito atualmente em palcos de stand-up serve como “disfarce para discursos de ódio e posturas autoritárias”.
Veja o pronunciamento de Pedro Cardoso na íntegra:
“Bom dia. Sobre Leo Lins, sugiro que leiam, no site Pretessências, a opinião de Aquiles Argolo. As palavras de Argolo, como sempre, dão-nos a dimensão da potência da violência racista no brasil; e a proporcional reação que, ainda bem, lhe oposta.
Agora, o meu ponto: Eu tenho dito, faz muito tempo, que o tipo de teatro a que chamam “stand up” se tornou um ninho no brasil onde se desenvolveu o ovo da serpente do fascismo. Não todos, mas tantos comediantes de “stand up” se permitiram as mal educações fascistas que se pode dizer de uma generalidade com exceções.
A razão pela qual o gênero “stand up” se prestou a ser tal incubadora se deve a nele o comediante, aparentemente, poder prescindir de representar um personagem e falar, com pretensa graça, na sua primeira pessoa, mantendo-se, entretanto, protegido pois tudo seria ficção.
Comediantes com mensagens fascistas valeram-se do “stand up” e disfarçaram de entretenimento teatral cômico o que era discurso político agressivo. Violentaram o teatro. Pessoas de lados oposto fizeram o mesmo. Acirra-se assim a violência e a conversa pacífica é destruída, atendendo ao interesse dos autoritários. E o teatro, lugar da provocação pela dialética, é reduzido a palanque de agressores, originais ou reativos.
Teatro sem personagem é uma doença do autoritarismo. O público hoje já tem dificuldade de rir de um personagem agressivo por receio de estar aprovando, com seu riso, o que seria a agressividade da pessoa que o representa. Confusão provocada por comediantes irresponsáveis.
Não há crime em ato ficcional narrativo. Personagens são fantasma imateriais. Mas quando o autor toma o lugar do personagem, o ato ficcional se torna disfarce onde se esconde um ato real. Questão de imensa sutileza. Criminalizaremos os versos misóginos do Funk? Nunca se quem os estiver dizendo for o personagem que canta.
Mas devemos criminalizar a piada racista, ou a misoginia, quando o ato já não for ficcional, ainda que disfarçado de o ser. No mais, o que diz Argolo sobre o pacto macabro da branquitude, é a mais absoluta verdade. Insisto no meu ponto: Só o personagem nos salva de nós mesmos. E enquanto isso, Carla foge.”